Que bom que você chegou até aqui! Não, não se preocupe. Por enquanto ainda não teremos a Rua Galã do Amor (essa figura icônica que ganhou atenção nas redes sociais), mas posso afirmar que a expressão ‘por enquanto’ é sólida, baseado nos últimos projetos dos vereadores que frequentam a Câmara Municipal de Ponta Grossa.
Fiscalizar e legislar. Esse é a premissa mais básica de um vereador. Eis que alguns, para justificar a remuneração mensal bruta de R$ 10.063,39, precisam empurrar projetos de lei (PL) goela abaixo. Pra piorar, a maioria deve ser votada e aprovada sem muita discussão, afinal de contas, pra quê? Indicações de nomes de rua e moções de aplausos são verdadeiros campeões, mas alguns outros também chamam atenção. Vamos nos ater àqueles protocolados (que podem, ou não, ir à Plenário) nos últimos dias.
– Institui a Tarde do Chimarrão, Tereré e Música Gaúcha nas Praças do Município de Ponta Grossa;
– Reconhece o Chimarrão e o Tereré bebidas símbolo do Município de Ponta Grossa;
– Institui e inclui no Calendário Oficial de Eventos do Município de Ponta Grossa o “Dia Municipal de Solidariedade ao Povo Palestino”, no dia 29 de novembro e dá outras providências;
– Altera a denominação para Corina Portugal da Avenida Vicente Machado nesta cidade;
– Institui ave símbolo de Ponta Grossa a “Curucaca”;
– Proíbe a comercialização de produtos alimentícios em formato de órgãos sexuais humanos em bares, lanchonetes, restaurantes, trailers e similares.
E assim por diante.
Nesta segunda-feira, 03, foi protocolado o Projeto de Lei 1º 82/2023, de autoria dos vereadores Bianco (que se elegeu com o nome Leandro, mas o abandonou no meio do caminho) e Pastor Ezequiel Bueno. O PL torna obrigatória a instalação de detectores de metais nas escolas da rede pública e privada do município.
Segue o texto da assessoria.
De acordo com a proposta, isso será obrigatório nas escolas com mais de 300 alunos. O objetivo é aumentar a segurança e prevenir práticas de violência e uso de armas.
Segundo o vereador Bianco a proposição se faz necessária diante dos elevados índices de violência nas escolas. Ele comenta que é preciso dificultar a entrada de armas de qualquer tipo e assim, prevenir ao invés de remediar, considerando que as forças de segurança não conseguem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Bianco destaca que o objetivo é evitar tragédias como as que vêm sido noticiadas Brasil afora, como um ataque a faca, ocorrido na última semana, na Escola Estadual Thomazia Montoro, na cidade de São Paulo, que deixou uma professora morta e quatro pessoas feridas.
Ora, ora, ora! Inegável e indiscutível a importância de se debater a segurança nas escolas. Mas crime como o que aconteceu em São Paulo não foi unicamente um problema de segurança escolar. É uma longa jornada psicossocial que culminou nessa tragédia.
Um projeto destes é demagogia pura. Tentativa vil de ganhar holofotes com algo que, sabidamente, não deve ser colocado em prática, afinal de contas, o que precisaria mudar caso isso fosse aprovado?
– Quem pagaria a compra destes detectores na rede pública?
– Qual o impacto disso numa mensalidade na rede privada?
– Quantos funcionários a mais precisariam ser contratados para que o sistema funcionasse? Homens e mulheres, para revistar meninos e meninas;
– Se o jovem fosse detectado com metais, o que aconteceria? Ficaria nu antes de provar que estava apenas com um compasso na mochila para a aula de geometria?
– Quem iria fiscalizar todas as escolas municipais diariamente?
Não, não resolve o problema, além de criar outros tantos. Quando o projeto veio à tona nos grupos de WhatsApp, um empresário ponta-grossense (o qual vou me dar ao luxo de ocultar seu nome deste texto) discorreu de uma maneira muito clara sobre essa ideia de jerico.
“Na minha opinião eles tentam reparar um problema estrutural, de educação, com normas como essa. O que impede alguém jogar uma faca ou um estoque pelo muro? O que impede um aluno de usar um estilete do material para ferir alguém? A degradação do ensino e da moral dos jovens, e falo isso sem falso moralismo, vem acontecendo a anos. Falta o respeito, falta empatia, falta o carater e com isso sobra desrespeito e violência contra alunos e professores. Isso não se resolve com detector de metais!”
Já que é para se ‘defender a família’, que tal obrigar as escolas a disponibilizarem um atendimento psicológico para todos os alunos pelo menos uma vez por mês? Aí sim, identifica-se o ‘problema’ e trata-se o ‘problema’.
O projeto que foi lido no Expediente da Sessão Ordinária desta segunda-feira (3) será analisado pelas Comissões Permanentes da Casa, para então seguir para votação em Plenário.
Portanto, não se assuste se a Rua Galã do Amor aparecer, em breve, no seu bairro. Poderá ser a ideia genial, após muita reflexão, de um dos nossos parlamentares de Ponta Grossa.
Até a próxima.