Como a morte é uma piada sem graça, não é mesmo? De tão surreal só pode ser comparada a uma piada. Porém, ninguém ri. Não tem graça nenhuma. Nem mesmo aqueles que, assim como eu, não temem cruzar a linha de chegada e passar pro lado de lá. Rir não faz parte da morte, apesar de fazer parte dos velórios.
Todo mundo sabe que um dia ela virá. É inevitável e é de ciência de todos. Mas sempre é um dia no futuro. Sempre é um dia daqui muitos e muitos e muitos anos. Sempre é com os outros. Até que ela bate de cheio em quem a gente ama. “Desgraçada!” é apelido. Tanta gente ruim no mundo pra levar, leva quem não merecia. E a gente fica sem palavras. E a gente fica em solidão. E a gente fica sem entender.
Problema da morte não é ir embora. O problema da morte é deixar o vazio em quem fica por aqui, tendo que seguir em frente, sem muita escolha. Oras, “a vida continua”, alguns dizem. Continua, claro. Mas ninguém está preparado para os passos no escuro que serão dados sem aquele que já foi. Principalmente nos primeiros dias. É tudo novo. É como andar em nuvens, sem sapato. Não sei no que estou pisando, mas tem algo ali. De novo! “Desgraçada”… por quê?
Por que eu não fiz mais? Por que não passei mais tempo? Por que… por que… por que… Nem todo tempo do mundo seria suficiente.
Pode ser que estejamos prontos para morrer, mas nunca para perder alguém para a morte. Tenho tentado viver um dia depois do outro. E mais um… e mais um… mas o vazio está ali. Tento imaginar que está lá, na casa dela, assistindo aos programas de TV que tanto gostava e varava madrugada afora. Mas em alguns momentos bate a realidade. E aí, meu amigo… o bicho pega.
Ninguém gosta de falar sobre morte. Eu, claro, também não. Mas precisava… ainda não estou bem, mas vai ficar. Era assim que queria…