Bastidores: O que acontece enquanto rola uma sessão na Câmara de Ponta Grossa?

Em 2002, Clodovil Hernandes (1937-2009) recebia em seu programa na TV Gazeta, o Mulheres, a atriz boca suja Dercy Gonçalves (1907-2008). É um dos momentos memoráveis da TV brasileira, inclusive compartilhado constantemente no TikTok. Em uma tentativa de agradar a doce senhora, Clodovil pegou um ramo de flores que enfeitava o cenário e disse que ofereceria a ela o mimo.

A resposta sincera?

– Vai me dar flor? Puta que pariu, eu tenho ódio de flor! – disse.

– Mas o gesto não vale nada? – retrucou o estilista.

– Seu gesto é você estar aqui comendo comigo, com suas palavras tão bonitas, seu carinho. – comentou Dercy.

– Ah, isso é verdade. – concordou Clodovil.

Assista abaixo esse momento.

Clodovil podia ser uma pessoa complicada, conforme dizem algumas figuras que trabalharam e conviveram com ele, mas uma coisa é certa: assim como Dercy, ele também dizia o que queria dizer!

Em 2006, Hernandes foi eleito deputado federal por São Paulo pelo PTC, conquistando a terceira maior votação do estado, com 493.951 votos. Quase meio milhão de pessoas votaram em um candidato que, durante a propaganda eleitoral, disse:

– 3611 é o meu número e vocês sabem disso. Agora, por que que eu escolhi o 11? Meu amor, porque o 24 já era, agora é um atrás do outro, ha ha ha… (assista a esse outro momento especial clicando aqui)

No dia 06 de fevereiro de 2007, em seu primeiro discurso na Câmara Federal, Clodovil conseguiu calar o plenário ao ironizar o barulho que os colegas faziam enquanto falava.

“Fala-se muito em decoro parlamentar. Eu não sei o que é decoro com um barulho desses enquanto a gente fala. O que seria decoro com esse alga… Porque parece um mercado. Isso aqui representa o país. Eu não entendendo  que tanto barulho quando as pessoas estão falando. (…) Eu vou me fazer respeitar!”.

E conseguiu o silêncio de 350 deputados que passaram a lhe ouvir. Assista abaixo.

Polêmico ou não, Clodovil tinha (e continua tendo) razão.

Como jornalista, já acompanhei dezenas e dezenas de sessões da Câmara Municipal de Ponta Grossa, em várias legislaturas e, de fato, uma das coisas que sempre me incomodou foi a falta de respeito dos vereadores enquanto há discursos e discussões em andamento. Afinal, é um debate, não? Todos estão ali para debater o futuro Legislativo de uma cidade, mas para que isso aconteça é preciso prestar atenção no que está acontecendo.

Em Ponta Grossa, há duas sessões semanais – às segundas e quartas-feiras. São duas, três horas em plenário, em que deveria ser regra abandonar o mundo lá fora para discutir o destino de um município, afinal de contas, eleitos para isso, não?

NÃO! Não é hora de papear com os colegas vereadores, mesmo que a desculpa seja os projetos da Ordem do Dia. Há outros momentos para se fazer isso. Um vereador deve entrar na sessão preparado para ela, tão e somente ela. Ao entrar em plenário, deve-se abundar-se em sua cadeira, prestar atenção nos demais e manifestar-se.

Também não é hora do cafezinho, de ficar de conversas no WhatsApp, de ouvir áudios no celular. Dormir, nem  pensar! O chocolatinho da Páscoa pode ficar para depois da sessão, no seu gabinete, quando não precisará compartilhar com ninguém. Riso frouxo com o coleguinha também poderia ser evitado, uma vez que pode dar a entender que estão tirando sarro dos eleitores que se acumulam na galeria.

É neste momento em que o Presidente da Casa deveria tomar as rédeas da Sessão, calar aqueles que não estão atentos ao que acontece. Se precisar, assim como uma professora da 5ª série, dar aquela bronca e levar para a diretoria. Pena mesmo é quando a Mesa Executiva parece fazer parte da farra do grupo do fundão.

Tudo tem seu tempo. A sessão deveria ser um momento sagrado de silêncio, concentração e discussão. Ontem, 01, Dia da Mentira, vereadores votaram um Projeto de Lei que poderia aumentar o número de parlamentares no município. Me chamou muita atenção a ausência do Presidente da Casa na maior parte da discussão, como se não houvesse a necessidade do debate sobre o tema. O PL foi rejeitado por pressão popular.

 

Os registros abaixo foram feitos com a sessão em andamento. Em nenhum deles a sessão estava paralisada, sempre havia alguém discursando ou debatendo. Que sirva como um puxão de orelha, já que a maioria que percebeu que estava sendo fotografada, parava na hora de fazer o que fazia, parecendo entender que estava desrespeitando uma Casa de Leis e uma população de mais de 350 mil pessoas.

Em outras palavras, quando um burro fala, o outro abaixa a orelha, para ficar mais claro. Em tese, pelo menos.

 

Enquanto Divo discursa na Tribuna, papo vai e papo vem na Mesa Executiva.

#ZapZap01 (essa coleção vai longe!)

#ZapZap02

Esticando as pernas e #ZapZap03

Enquanto alguém discursa, aquele papo sério.

#Alô,Mãe!

E na Mesa Executiva…

Papo com a assessoria… enquanto outro alguém discursa!

Durante discurso de Ede Pimentel, Dr. Zeca e Pastor Ezequiel Bueno discutem como mudar o rumo da cidade. Não devia ser importante o que o Ede dizia.

#ZapZap04

#Alô,Mãe2

#ZapZap05

#ZapZap05

#ZapZap06

#Dr. Zeca salvando a Saúde ponta-grossense enquanto Izaías Salustiano discute projetos (detalhe para a tela com  a transmissão oficial da Câmara)

#ZapZap07

Não me lembro do que foi engraçado.

Repórter Sassá, encostado no plenário (o que fazia no Plenário?), como se fosse um boteco, discutindo com Julio Kuller sabe-se lá Deus o quê. Enquanto isso, outro vereador continua discursando. Observa-se que há grande interesse na discussão.

Devia ser boa a história!

#ZapZap08

#ZapZap09

#ZapZap10

Por fim, apareceu o Presidente, enquanto Missionária Adriana discursa. Os médicos, Dr. Zeca e Dr. Erick, parecem estar em atendimento emergencial no #ZapZap10

#ZapZap11

#Alô,Mãe03

Um cafézinho pra rebater o almoço.

Nem com o coleguinha ao lado discursando larga-se o #ZapZap12

Discussão importante enquanto outro alguém falava para as paredes.

#ZapZap13

Realmente o Milla falava para as paredes.

Olha o passarinho!

#ZapZap14

#ZapZap15 (aliás, seria Léo Farmacêutico o Léo do Zap?)

Izaías resolveu se vingar de quem não prestou atenção em seu discurso… também no #ZapZap16

Interessante como as pessoas mudam quando percebem que estão sendo fotografadas.

Desta vez quem fala é Maurício Silva. Nem o Sassá presta atenção. Ede Pimentel tinha formiga na cadeira neste dia. Vale uma atenção da Presidência se não é preciso trocar a poltrona.

#ZapZap15

Um chocolatinho pós-Páscoa que poderia ter sido deixado para depois.

 

Nenhum dos vereadores teve sua privacidade invadida nestes registros. Os mesmos estavam em sessão parlamentar, aberta à comunidade, atuando em função pública, em espaço público.

Você, leitor, acredita que “ah, mas eu estava discutindo no Zap ou no plenário as pautas do dia” seria desculpa para deixar os demais falando ao léu?

Não importa o quão importante e ativo seja seu trabalho fora das sessões. Nas sessões, o MÍNIMO que se espera é presença real. PRESENÇA, não Zap, não café, não bolachinha, não risadinha.

O espaço abaixo está aberto para as notas dos excelentíssimos vereadores que desejarem (eduardo.vaz@eproducoes.com).