Ontem estive na Câmara Municipal de Ponta Grossa pra acompanhar a audiência pública sobre o Plano de Ajuste Fiscal (aquele que mexe no IPTU, no ITBI, no ISS, nos terrenos industriais e por aí vai). Mas confesso: antes mesmo de a audiência começar, já tinha gente chamando mais atenção do que os projetos em si.
Foi ao final da sessão ordinária, quando as câmeras já estavam desligadas e pouquíssimas pessoas (duas ou três, incluindo este jornalista) permaneciam na galeria. Eu estava de olho no plenário quando vi o vereador Florenal Silva (Podemos), com aquele jeitão que a gente já conhece, mostrando pra outro vereador, o Ricardo Zampieri (PL), o que parecia ser uma tornozeleira eletrônica.
NÃO, VOCÊ NÃO LEU ERRADO!
Isso mesmo. Plenário da Câmara, sessão finalizada, vereadores, cada um para seu canto, aguardando o horário da audiência pública, e um deles com algo preso na perna. E claro, foto oficial do momento. Dos dois lados, posso dizer, porque eu, rapidamente, também tirei o celular do bolso, liguei a câmera e flagrei o momento.
Não pensei duas vezes: fui atrás para entender o que era aquilo, se minha miopia não tinha traído meu olhar apurado.
Aguardei um pouco em frente à presidência, onde os vereadores discutiam como seria a audiência pública, e conversei com o próprio Florenal. Gravei. Questionei. E ele explicou: era de mentira. Uma “brincadeira” feita com um carregador de celular, montado por ele mesmo na churrascaria que possui. O motivo? Um protesto simbólico contra as restrições impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Que situação que nós chegamos nesse país, né? O nosso ex-presidente Bolsonaro, uma carreira política com mais de 40 anos de exercício de mandato, com nenhum processo, nenhuma condenação, usando tornozeleira eletrônica. Isto é um absurdo”, disse o vereador. “Eu espero que essa tornozeleira seja um símbolo de mudança no nosso país. Que possamos, a partir desse momento, mudar a chave e que tenhamos um país mais justo, mais honesto, um país de um governo sério que realmente pense no povo brasileiro”, completou.
Florenal, que em abril deste ano “puxou” uma oração pela saúde de Bolsonaro durante sessão plenária, explicou que fez esta “brincadeira” esperando que algum outro vereador o questionasse durante a sessão, o que não aconteceu. “Eu coloquei ela hoje, só pra vir na sessão, mas ninguém me provocou, não falaram nada, eu fiquei quieto”, concluiu.
Agora, cá entre nós: se isso tivesse acontecido durante a sessão plenária, seria uma cena que resumiria bem o nosso momento político. O país vive tensões reais, decisões judiciais com impacto profundo, o município discute reajuste fiscal sério, mas parece que sempre tem espaço pro espetáculo. E o palco, dessa vez, teria sido a nossa Câmara. UFA! Obrigado, Senhor, que só eu vi… e agora você!
E aí? O que achou da ideia?