Toda vez que um jornalista diz que alguém ‘falece’, em vez de ‘morre’, um anjo de Deus berra que não é possível. Aliás, cursos de jornalismo ensinam, sim, que é mais conveniente que se diga que uma pessoa morreu do que faleceu. Na prática, quem faltou essa aula faz cagada.
Ainda que o Aurélio indique que falecer signifique “Deixar de existir; perder a vida; morrer ou expirar”, evite o termo.
“Zé das Coves morre aos 112 anos”.
“Morre Zé das Coves, aos 112 anos”.
“Aos 112 anos, morre Zé das Coves”.
Agora lê e me diz.
“Zé das Coves falece aos 112 anos”.
“Falece Zé das Coves, aos 112 anos”.
“Aos 112 anos, falece Zé das Coves”.
Não sou gaúcho, mas é a hora que eu digo: “Mas bah!”
Pra piorar, somente se você for daqueles que coloca o verbo no passado no título da reportagem.
“Zé das Coves faleceu aos 112 anos”.
“Faleceu Zé das Coves, aos 112 anos”.
“Aos 112 anos, faleceu Zé das Coves”.
Se você se enquadrar neste caso, cuidado! O anjo de Deus que berra com o ‘falecer’, nessas horas vem à Terra torcendo para que você levante os braços pra te puxar.
Mas se você ainda não se convenceu de que, além de tudo, é feio pra burro usar este termo, na página 127 do Manual de Redação e Estilo do Estadão você encontra uma orientação muito clara e simples.
“Falecer”. No noticiário, use morrer.
Já na página 181, fala-se sobre os três tipos: Morrer, morte, morto.
1 — Por serem mais jornalísticas, use estas palavras no noticiário, em vez de falecer, falecimento ou falecido, cujo emprego deve ficar restrito à seção de Falecimentos. Evite também desaparecimento ou desaparecido, com esse significado.
2 — Como morto é particípio tanto de morrer quanto de matar, prefira a forma que morreu a morto (para não dar a idéia de que alguém matou alguém) em frases como: O ator Jofre Soares, que morreu em 1996 (e não morto em)… / Tinha saudades do filho, que morrera aos 18 anos na capital (em vez de morto aos 18 anos na capital)…
3 — Um acidente causa mortes e não mortos: Choque de ônibus causa (provoca) 25 mortes (e não “mortos”).
4 — Com mortos o que se pode usar é deixar: Choque de ônibus deixa 25 mortos e 35 feridos.
5 — “Fazer mortos” ou “mortes”. Ninguém “faz” mortos ou mortes. Recorra às opções acima.
6 — “Vítima fatal”. Fatal é o acidente, o choque, a colisão, etc., e nunca a vítima
E o manual continua com as indicações de COMO TRATAR A MORTE.
Mortes (como tratar). Sem fazer estardalhaço ou sensacionalismo, diga efetivamente de que uma pessoa morreu.
Não há motivo para preconceito e o leitor merece a informação correta, seja a morte decorrente de suicídio,
seja de doenças como a aids, o câncer, a leucemia ou outras. As circunstâncias da morte também deverão sempre ser devidamente esclarecidas.
Poupe o leitor, porém, de detalhes escabrosos, que pouco ou nada acrescentem ao noticiário, no caso de crimes violentos. Particularidades da vida íntima da pessoa — era homossexual, era traído pela mulher ou pelo marido, por exemplo — somente deverão figurar na reportagem se estiverem diretamente relacionados com a causa ou as circunstâncias da morte.
Bora corrigir isso aí?