Não, eu não estou do seu lado – e tá tudo certo com isso!

Outro dia, mal tinha entrado em um evento, um dos convidados chegou pra mim, antes mesmo do tradicional “como vai?”:

– Você que é radialista, tem que comentar lá!! Essa camisa vermelha da Seleção, hein? Querem transformar nosso país em vermelho… e agora até a Seleção. Que absurdo o que tá acontecendo.

Como quem paga meus boletos, costumeiramente, sou eu, bom… decidi responder.

– E o senhor acha que eu vou gastar meu dinheiro comprando UMA camisa dessas? Quero QUATRO!

– Ah, então você é desses aí, é? Vermelhão, né.

– É! Sim! Sou! Melhor ainda se a camisa tiver uma estrela no peito.

E aí, você, meu querido leitor, pode imaginar o desconforto.

Mas a verdade é essa: tem gente que não aceita nem que você pense diferente — quem dirá brinque com isso.

Tá doente. E não é força de expressão.

 

O BRASIL TÁ DOENTE.

Não de vírus, mas de intolerância. Tem gente gripada de ódio, com febre moral, alérgica ao contraditório. Qualquer desvio da bolha causa coceira ideológica.

Vivemos tempos de uma epidemia de certezas absolutas, e olha que os danos causados por epidemias nós conhecemos bem. As pessoas não conversam mais sobre outros temas. Tudo virou política. Tudo virou confronto.

Pessoas deixaram de ouvir, apenas reagem, e muitos porque não aguentam mais essa situação em que você é obrigado a engolir uma pílula que não lhe cabe. A política virou diagnóstico: ou você é dos “nossos” ou tá errado, vendido ou alienado. Onde é que nós chegamos e, pior: onde é que vamos parar?

 

O PIOR NÃO É A OPINIÃO. É A PRESSÃO PRA CONCORDAR.

Famílias que param de se reunir, grupos de amigos que viram zona de guerra, colegas que se bloqueiam por causa de uma figurinha no WhatsApp. Tudo porque um ousou ter opinião própria. Ou pior: não quis ter nenhuma.

E o mais curioso? Quem mais grita “liberdade” é justamente quem menos tolera quem pensa fora do seu script.

 

LIBERDADE DE VERDADE?

É poder criticar o Lula sem virar bolsonarista. É não engolir o Bolsonaro e, ainda assim, não beijar a estrela vermelha. É olhar pros dois lados e, se quiser, virar pro terceiro. Ou para o quarto. Ou pra nenhum!!!

Mas não! Querem que você se encaixe na mesma laia deles. Que escolha time, slogan, cor de roupa conforme as crenças deles. E o mais assustador: querem que você leve essa fidelidade até o prato de feijão.

Isso cansa… muito!

 

VAMOS FALAR SEM MEDO DE SER FELIZ?

Você pode achar a camisa vermelha da Seleção um erro e continuar acreditando na democracia. Ou achar um acerto e também continuar acreditando na democracia. Pode usar verde e amarelo e continuar sendo crítico ao governo anterior. Ou a este! Tanto faz!
É permitido não ter político de estimação e ainda assim se importar com o país.

Difícil de aceitar? Paciência. Democracia é feita de desacordos. Contudo, quando desacordo se torna intolerância, qual seria a solução?

 

SOMENTE RESPEITO

E não aquele respeito educadinho, falso, cheio de condicionais. To falando do respeito real! O respeito que aceita que o outro não pense igual, que o outro não vai mudar só porque você gritou mais alto ou postou mais raivoso.

Se a sua militância exige calar quem pensa diferente, excluir quem discorda, destruir quem duvida… talvez o problema não seja o outro. Talvez a doença tenha chegado aí.

E antes que venha alguém me chamar de isento, aviso logo: não sou neutro.
Sou livre. E liberdade inclui o direito de discordar — com ironia, com firmeza, com inteligência.
No fim das contas, talvez o maior ato de resistência hoje seja simplesmente não entrar na briga.

Mas tá difícil, hein?

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Sobre o autor

Eduardo Vaz

Eduardo Vaz

Jornalista multimídia e produtor executivo de rádio e tv, com passagens por Band, Grupo Ric, Rede Massa SBT, entre outros meios de comunicação.

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