O Faustão precisa de um novo coração!

Sim, vou falar do Faustão. Mas por que não falar do José, da Maria, do Claudio e da Francisca que também precisam de um novo coração? Porque Faustão representa todos eles.

Cresci assistindo ao Silvio Santos. Minha avó assistia ao Silvio. Era muito difícil, aos domingos, o Domingão do Faustão na casa onde morávamos. Vinha o Gugu, depois do Silvio. Lembro claramente um domingo em que, com meus 10, 11 anos, havia brincado tanto naquele dia que, no fim da tarde, pensei: ‘Nossa, não assisti nada do Gugu hoje’. Deve ter sido uma semana de maior inocência, sejamos sinceros, sem a banheira.

Quando passei a frequentar a casa da minha atual esposa, ainda como namorados, era o Faustão que dominava a TV aos domingos. Passei a assistir com uma frequência maior. Nunca fui fã do Faustão, mas como todo aficionado por televisão sempre respeitei a história dele. Hoje, vendo as chamadas dos anos 90, no switcher ou em qualquer outro canto, vejo como eram criativas e espontâneas.

Nos bastidores, sempre teve a fama de ter um coração maior do que a barriga (isso, isso, isso…). Um grande cara, em um meio complicado, que, com irreverência, chegou ao Plim Plim. Inesquecível a foto do aniversário em que estava junto com Tom Cavalcante, Hebe Camargo, Roberto Carlos, Jô Soares e Chitãozinho. Deu oportunidade a muitas pessoas, ajudou financeiramente muitos outros. Fez sua fortuna com trabalho. Fez bariátrica. Deixou de ser gordinho, mas não chatinho, para alguns.

Não teve a chance de se despedir na Globo. Hoje podemos imaginar que estivera internado naquela fatídica semana por causa do coração. Tiago Leifert assumiu prometendo que no domingo seguinte o ‘gordinho da tv do Roberto Marinho’ estaria de volta. Contrato rompido naquela semana. Faustão deixava a Globo sem um até logo do público que o acompanhou por quase três décadas aos domingos. Já tinha anunciado o último ano do ‘Domingão’ e que iria pra Band em 2022.

Tenho pra mim que a ida para a Band foi uma promessa feita aos Saad quando deixou a emissora de que, um dia, voltaria para encerrar a carreira na Band. Se foi isso, promessa cumprida… não creio que Faustão deva voltar ao ar em tv aberta. O programa da Band, cercado de plumas e paetês, nasceu morto. Formato ultrapassado, diário, caro. Era um símbolo de esperança que se foi. Em dinheiro e audiência. Uma pena. Antes mesmo de ir ao ar sua despedida, gravada, havia sido internado com problemas cardíacos. Dias depois, a surpresa: Faustão precisa de um novo coração.

Pode parecer maldoso o que direi a partir de agora. Entenda como quiser! O cara que levou alegria e comunicou com o Brasil todo, dono de uma generosidade sem tamanho, precisar de um coração. Que Deus é esse? Agora, na hora da aposentadoria, onde poderia curtir a família, amigos, a fortuna, ainda mais, ficar preso a um hospital, em uma lista de transplante junto com 318 outros pacientes? Que maldade!

Faustão ganhou um novo desafio. Longe das telinhas, e provavelmente o maior da sua vida. Falar sobre a importância de ser um doador de órgãos. As pessoas têm medo de falar sobre isso. As pessoas têm receio de que isso possa atrair coisas ruins.

Nos anos 2000, a novela Laços de Família – um clássico do Manoel Carlos – fez com que a lista de doadores de medula óssea se multiplicasse várias vezes, após expor o drama da Camila (Carolina Dieckmann). Passado o bum, não se falou mais nisso. Lá se vão 23 anos. Os doadores voltaram a cair. Os casos, a subir.

Agora, com todo mundo se perguntando: mas como funciona o transplante do Faustão? Quem pode ser doador? Quais as chances reais de sobrevivência? Faustão ganhou de Deus a missão de fazer com que as famílias voltem a falar sobre transplantes. Que bênção! O José, a Maria, o Claudio e a Francisca não teriam a visibilidade de transformar uma cultura social, a do debate sobre o tema, na casa dos brasileiros.

Eu sou doador em potencial. De tudo! Se algo acontecer (toc toc toc), que vidas possam ser salvas da maneira que for. Ao Faustão, minha prece carinhosa, assim como todos aqueles que estão na fila e passando por um momento difícil. “Quem manda é o chefe lá em cima”, como ele mesmo disse. Um bom guerreiro não foge da luta e, independente do que aconteça, a guerra já está ganha com essa visibilidade toda.

Força, Faustão!

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Sobre o autor

Eduardo Vaz

Eduardo Vaz

Jornalista multimídia e produtor executivo de rádio e tv, com passagens por Band, Grupo Ric, Rede Massa SBT, entre outros meios de comunicação.

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