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Perguntei ao ex-prefeito Péricles: mas e o Cocozão, hein?

Hoje pela manhã recebemos no programa ‘Manhã Total’, da Rádio Lagoa Dourada FM, o ex-prefeito de Ponta Grossa, Péricles de Holleben Mello. Aliás, muito agradável ouvir o ex-prefeito, que fala com muita serenidade e credita isso ao conhecimento da filosofia budista.

Ele contou sobre o lançamento do primeiro livro, Melodia de Uvaranas, falou um pouco sobre religião, e, como todo jornalista curioso, não pude perder a oportunidade:

E O COCOZÃO?

Não! Não adianta fazer cara séria, você sabe exatamente do que estamos falando!

Maaas, caso não lembre, cocozão (esse monumento da foto) ficou famoso no Brasil todo por lembrar um… bem… você já sabe. Foi construído na gestão do ex-prefeito Péricles (2001 – 2004) e inaugurado no último ano de mandato. Em tese, era para ser uma homenagem a uma araucária.

Nunca tinha ouvido o Péricles falar sobre ele (com tanta sinceridade!).

O QUE DISSE O EX-PREFEITO?

De cara, ele reconheceu uma coisa que muita gente evita admitir. “O líder comete dois tipos de erro. Um erro que ele comete sem saber que está cometendo. E outro erro que ele sabe que está cometendo, mas elementos da sua personalidade, do seu caráter, impedem… ele quer e não consegue superar o erro”, disse. E emendou, sem esconder nada: “Ele erra sabendo que está errado”.

ENTÃO PELO JEITO O COCOZÃO FOI UM ERRO?

É… pelo jeito!

Para ilustrar o caso, Péricles contou um episódio particular: “Tinha algumas pessoas que eu tinha certeza que tinha que demitir. Eu não conseguia demitir. Sabendo. Alguns eu consegui, alguns não consegui. E todos aqueles que eu achei que tinha que demitir, no final eu estava com a razão, mas eu não tive força interior pelo meu gênio”.

O QUE ISSO TEM A VER COM O MONUMENTO?

Nada! Ou quase nada! Continua aí, vai…

Daí entramos no Cocozão e, então, foi-se o mito. (aliás, ultimamente vários mitos tem caído!)

“O Cocozão eu não sabia que estava errado, porque é uma obra de arte. A intenção era outra”, disse, garantindo que até amigos tentaram alertar para a tragédia. Segundo ele, tudo começou quando um conhecido apresentou um artista com currículo impecável. Esse artista trouxe três alternativas de monumento que supostamente saudariam a Araucária, o vento dos Campos Gerais e a água. Dois eram em aço. Outro, em vidro.

Se tivesse escolhido um desses, segundo o próprio Péricles, “tudo certo”.

MAS POR QUE ELE NÃO ESCOLHEU?

Porque gostou — ainda que com dúvidas — da ideia que incluía jatos de água pesada formando a copa de uma Araucária imaginária. “Ia ficar uma hipotética copa de uma Araucária… tinha um movimento permanente, um movimento longitudinal, transversal… e escondia a haste com os jatos dela”, explicou.

Só que o ex-prefeito, ainda assim, tinha uma pulga atrás da orelha. “Eu tinha uma coisa que me chocou. Eu nunca imaginei a palavra Cocozão. Isso foi muita imaginação do artista Tavinho Luck.” E riu da situação, reconhecendo que o apelido “foi muito bem pegado”.

 

Uma observação:

Tavinho Luck é radialista em Ponta Grossa e ficou conhecido em todo o Paraná por criar e interpretar o personagem Véio Nordo. Na época, Tavinho apresentava o programa de humor ‘Padrão de Qualidade’, junto com Marcelo Rangel (ex-prefeito de Ponta Grossa; ex-secretário de estado e deputado estadual) e Sandro Alex (secretário estadual e deputado federal). Após uma briga pelos direitos do personagem, Tavinho mudou de frequência e, desde então, apresenta programas de humor na Rádio T, para todo o estado do Paraná.

 

MAS… PROSSIGA!

E aí, Péricles foi de zero a cem na sinceridade (brutal, até): “Eu achava um pouco brega, porque o cimento com fibra de vidro… uma coisa um pouco brega. Mas eu fiquei pensando: tem movimento, tem água…”.

Ele conta que chegou até a preparar um texto para apresentar o monumento em palestras. “Olha, vai sair um monumento em Ponta Grossa… vai saudar os campos.” Mas antes mesmo de instalar, vieram os alertas. “O Bira chegou para mim… ‘Péricles, esse monumento é difícil’”.

E aí veio o erro que ele chama de essencial: “Eu sou engenheiro. Eu tinha que ter mandado ele construir um modelo reduzido. E isso nem eu pensei, nenhum dos engenheiros que me acompanharam”.

Quando a estrutura finalmente chegou em Ponta Grossa, o choque: “A hora que chegou na cidade, o Bira… ‘cara, você está louco’. Chegou um negócio grande”.

Instalaram. E começou o pesadelo.

ESTAVA LÁ… O COCOZÃO DE PONTA GROSSA!

E daí não deu boa! Por que?

Primeiro: a água pesada não subia por causa do vento. “Você pode pôr a maior bomba do mundo aqui. A altura é muito grande para subir a água”, contou um técnico chamado por ele. Para piorar, precisaria colocar a bomba dentro do espelho d’água, o que já começava a destruir o conceito original. Construíram alvenaria dentro do lago artificial… e nada!!

“Mesmo assim, não subia. Não subia.”

Outra coisa. “O virabrequim não funcionava!” (a árvore de manivelas, o eixo crucial em um motor que converte o movimento linear dos pistões em movimento rotativo contínuo, permitindo que o monumento se mova).

Depois, veio o episódio das abelhas. “Ainda fizeram um enxame”, contou. O pessoal da Prefeitura teve que intervir com supervisores, agentes, a equipe toda mobilizada.

EITA, PREULA!

No meio disso tudo, Péricles ainda lembrou de outras obras que o desgastaram no ano de reeleição, especialmente o terminal central recém-inaugurado na época — uma decisão que ele mesmo considera precipitada. “Achei que ia ser uma grande coisa, que o povo ia bater palma, só que não!”

“AÍ EU ME ARREBENTEI!”

E respirou, antes de concluir:

“E aí a terceira obra que demorou muito foi a da Rua da Estação!”

“Mas são erros. Se eu tivesse atrasado. Se esperasse um pouquinho. Se eu tivesse feito o calçadão depois… Mas você já foi.”

 

Assista a esse trecho da entrevista, na íntegra.

 

Depois disso tudo, inclusive de ter perdido a reeleição em 2004, o ex-prefeito fala com a serenidade de quem já pagou caro pelos erros e, hoje, consegue vê-los com uma mistura curiosa de ironia, honestidade e, o que até me surpreendeu, uma certa paz.

E sejamos honestos, no meio disso tudo, o Cocozão segue firme na história de Ponta Grossa.

 

Um papo muito agradável com Péricles, que deixou um gostinho de quero mais. Sabe aquela história de que ‘teremos outras oportunidades’?

Talvez, não!

Você pode assistir na íntegra abaixo também.

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Sobre o autor

Eduardo Vaz

Eduardo Vaz

Jornalista multimídia e produtor executivo de rádio e tv, com passagens por Band, Grupo Ric, Rede Massa SBT, entre outros meios de comunicação.

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