Sim, a situação é essa, caro leitor. Um cãozinho, instantes depois de ser atropelado pelo caminhão de lixo, acabou sendo jogado no triturador para acobertar o crime. Em nota, a Ponta Grossa Ambiental indicou que a responsabilidade seria do tutor, que não manteve o animal preso durante o serviço de coleta. Ora essa!
Então, fica a dica! Dona Érica, minha leitora fiel, tome cuidado, ok? Se você acabar atropelada por um caminhão de lixo pode ser que termine no triturador… e a culpa é toda sua, tá? Porque saiu de casa na hora da coleta enquanto deveria permanecer trancadinha na sua residência.
O FATO
Foi na região da Vila Tânia Mara, nesta sexta-feira, 09. A tutora estranhou a ausência da cachorrinha Ágata, que havia fugido de casa quando um morador tinha aberto o portão para sair com o carro. Após encontrarem pelagem e vísceras da coitadinha na rua, foram buscar nas câmeras de segurança e descobriram que a Ágata tinha sido atropelada e jogada no compactador de lixo do caminhão, sem dó nem piedade.
A tutora buscou a empresa, relatou a situação e, inclusive, divulgou o vídeo do momento. (já te indico como assistir a essa tragédia)
GESTÃO DE CRISE
O que poderia ter sido apenas um caso isolado é símbolo de algo maior: a falta de sensibilidade na gestão de crises.
A empresa responsável pelo serviço, a Ponta Grossa Ambiental, reconheceu o ocorrido. Tomou providências, afastou os colabores e ressaltou a política interna. Ótimo! No entanto, o posicionamento público deve ser recebido com indignação. A nota publicada pela empresa chamou a atenção por tentar dividir a responsabilidade com os tutores do animal, ao citar obrigações sobre a guarda de pets durante a coleta.
É verdade que há regras. É verdade também que acidentes podem ocorrer — e não há como julgar a intenção do motorista envolvido. Do coletor, sim! Este agiu intencionalmente, com o objetivo único de acobertar o acidente. Mas há algo que toda empresa precisa compreender: a maneira como se posiciona diante de uma situação crítica fala muito mais alto do que a própria situação.
RESPONSABILIDADE E EMPATIA
Seria o momento de dor desta família, o ideal para ‘reforçar’ o cuidado que o tutor deve ter? Jamais! Ágata não fugiu de casa com a intenção de morrer triturada! A tutora, obviamente, não esperava esse desfecho trágico.
Uma nota protocolar e defensiva aumentou ainda mais o desconforto. Faltou empatia. Faltou humanidade. Faltou o básico: reconhecer que, mesmo quando a responsabilidade direta é questionável, a dor alheia merece respeito e acolhimento.
Ao tentar proteger sua imagem com argumentos técnicos, a empresa acabou fazendo o oposto. A comunidade não queria culpados naquele momento. Queria apenas ouvir: “sentimos muito” e não um “a culpa também é sua”.
AÇÃO CONSTRUTIVA
O episódio deixa uma lição para o setor privado — especialmente para quem lida com o cotidiano das cidades e está, diariamente, nas portas das casas das pessoas. Gestão de crise não é sobre evitar prejuízos jurídicos. É sobre assumir, com humildade, que houve uma falha, um descuido, uma dor. É sobre olhar para a comunidade e se colocar ao lado dela, e não do outro lado da trincheira.
Uma carta escrita com o coração teria sido mais eficaz do que qualquer nota técnica. Um gesto — uma visita, uma homenagem, uma pequena ação em favor da causa animal — teria falado mais alto do que qualquer parágrafo jurídico.
A empresa não tem culpa do acidente e, muito menos, da atitude isolada, antiética e fora dos padrões recomendados, do coletor. Pode não ter culpa, mas tem RESPONSABILIDADE. É isso que é preciso compreender durante uma crise. Assumir “os seus B.O.s”, e tomar uma atitude construtiva.
Esta é uma situação em que a família procurará a Justiça e, sem dúvida alguma, receberá uma indenização infinitamente menor comparada à dor da perda do bichinho. Mas… e a comunidade, como um todo? Ninguém sabe se este é um caso isolado.
Por que não a empresa comprar uma tonelada de ração animal e doar para ONGs que cuidam de animais abandonados, como forma de compensar a comunidade no geral? Não vai doer no bolso, posso apostar.
E fica a pergunta: quando foi que a lógica da proteção institucional passou a valer mais do que o respeito à dor de quem perde alguém que ama?
Bom. Se você quiser ler mais sobre essa história e assistir ao vídeo (eu não colocarei aqui), segue o link do blog da jornalista Mareli Martins, que conversou com a tutora da cachorrinha. (clique aqui para acessar)
Como manda o bom jornalismo, segue a nota na íntegra da Ponta Grossa Ambiental:
NOTA À IMPRENSA
A Ponta Grossa Ambiental (PGA) confirma a ocorrência de um acidente envolvendo o atropelamento de um cão na cidade de Ponta Grossa, na manhã desta sexta-feira (09/05).
A empresa tomou conhecimento do caso algumas horas após o ocorrido, ao ser procurada por uma munícipe que se identificou como tutora do animal. Imediatamente após o contato, foi iniciada uma apuração interna para esclarecer detalhadamente a situação.
A PGA lamenta profundamente o ocorrido e reforça que, conforme os protocolos operacionais da empresa, em situações como essa, o procedimento correto é interromper a coleta e acionar imediatamente o fiscal de operação.
A conduta da equipe está sendo investigada. Os dois colaboradores envolvidos (motorista e coletor) foram afastados das atividades até a conclusão da apuração e eventual aplicação das medidas cabíveis por parte da empresa.
A PGA reforçará, junto aos demais colaboradores, os procedimentos estabelecidos para casos semelhantes.
Reiteramos que a guarda e a vigilância de animais domésticos são de responsabilidade exclusiva de seus tutores. Por isso, orientamos a população para que, especialmente nos dias e horários de coleta, mantenha seus animais em local seguro, evitando acidentes com os coletores e veículos, além de situações de risco e estresse para os próprios animais.
Lamentável é essa posição, isso sim!